sábado, 25 de abril de 2009

o qUe me moVe...


São quase quatro da manhã. Há seis minutos entrei em casa. Porque vivo inquieta, sou e sinto-me inquieta, não sei... E porque quero sempre mais. E porque isto é pura poesia, e merece estar em maiúsculas. E é lindo...

Fragmento 1

"O coração, se pudesse pensar, pararia."

"Considero a vida uma estalagem onde tenho que me demorar até que chegue a diligência do abismo. Não sei onde me levará, porque não sei nada. Poderia considerar esta estalagem uma prisão, porque estou compelido a aguardar nela; poderia considerá-la um lugar de sociáveis, porque aqui me encontro com outros. Não sou, porém, nem impaciente nem comum. Deixo ao que são os que se fecham no quarto, deitados moles na cama onde esperam sem sono; deixo ao que fazem os que conversam nas salas, de onde as músicas e as vozes chegam cómodas até mim. Sento-me à porta e embebo meus olhos e ouvidos nas cores e nos sons da paisagem, e canto lento, para mim só, vagos cantos que componho enquanto espero.
Para todos nós descerá a noite e chegará a diligência. Gozo a brisa que me dão e a alma que me deram para gozá-la, e não interrogo mais nem procuro. Se o que deixar escrito no livro dos viajantes puder, relido um dia por outros, entretê-los também na passagem, será bem. Se não o lerem, nem se entretiverem, será bem também."
O Livro do Desassossego
Composto por Bernardo Soares,ajudante de guarda-livros na cidade de Lisboa



2 comentários:

Pedro Cachola disse...

Ene ena ena!!! não tens noção de como gostei desse texto!


beijinho e já agora manda uma sms para mim mas identifica-te. Perdi os contactos todos :p

b.vilão disse...

Era isso que estava a precisar agora. Um pouco de "desassossego" literário. Tanhks.