Acho que toda a gente já recebeu um e-mail com frases da entrevista médico-doente (sim, é o nome pipi e moderno que se chama ao que dantes era apenas uma consulta...).
Fui a um congresso de Pneumologia na quinta feira, e para minha surpresa, ofereceram-me o livro que serviu de inspiração a esses famigerados e-mails. Foi escrito por um Otorrino do Porto, que passou 30 anos a ouvir, como ele diz, " a medicina na voz do povo".
Posso dizer que já ouvi a minha quota-parte disto. Há muita gente que pode considerar este livro insultuoso, mas se calhar não têm noção que a maioria dos doentes dos hospitais tendem a estar assustados com a sua doença, por mais simples que seja, o que é mais do que natural. Assim, como é típico da condição humana, têm de arranjar explicações para tudo o que desconhecem.
Algumas destas, chamemos-lhes opiniões, são verdadeiras pérolas. E ajudam-nos a chegar ao fim do dia com um sorriso na cara! Nem sempre é fácil, já que esta ignorância, na grande maioria dos casos que me passam nas mãos, é uma benção.
O prefácio do livro foi escrito pelo Júlio Machado Vaz, para quem não sabe é Psiquiatra, e de quem eu não sou especialmente fã, mas de vez em quando até escreve umas coisinhas giras (o mesmo não acontece no su blog, mas enfim...). Resume assim o que a maioria dos médicos pensa (ou devia, se não tiver sido apanhado pelo "bicho"):
"(...) o livro do Carlos, sendo um auxiliar precioso para a arte da Medicina, é também, clandestino por trás da modéstia e discrição do autor, um testemunho inatacável da excelência com que este a pratica."
Então, passei umas boas tardes a rir-me, muito profissional e respeitosamente, claro;)
Genial.
"Isto deu-me de ter metido a cabeça no frigorífico. Um mês depois fui ao Hospital e disseram-me que tinha bolhas de ar no ouvido."
"O último antibiograma que fiz dava Proteus Miserável (Proteus Mirabillis). E que miserável que ele era!"
"Quando me assoo dou um traque pelo ouvido" - Referência à manobra de Valsalva hihihi
Sobre otites supurativas (basicamente deitar pus pela orelhas...):
"Deito um pus que parece água de castanhas cozidas."
"Eu esterrincava sangue do ouvido direito. O médico disse-me que me rebentou a tese no ouvido"
Sobre a surdez e os aparelhos auditivos....
"ouço bem, é preciso é falarem-me alto."
"deve ser aquele bichinho, que a gente tem dentro do ouvido, que morreu."
"fizeram-me um exame psicotécnico e verificou-se que os meus ouvidos não ofereciam resistência para condutor de transportes públicos"
" nem aparelho posso usar porque a minha cabeça é alérgica e rejeitou o aparelho"
A boca...
"gostava que as papilas gustativas se manifestassem a meu favor"
"o médico disse que era um biruço (vírus) e eu acredito que sim, uma vez meti o dedo pela garganta abaixo e lá estava o filho da mãe, trraque, trraque, a morder!"
"O sr.doutor disse que eu tinha as amígdalas putácias (pultáceas)."
"não é nas inginas, é no cano"
"a minha voz fica muito trémula e com ligações ao cérebro."
"a minha espectoração é limpa, assim branquinha, parece, com a sua licença, espermatozóides."
"ou caiu da burra ou foi um ataque cardeal."
"O que me faz mal é chorar. A água que deito pelos olhos faz-me falta ao cérebro."
Aparelho circulatório e digestivo...
"Eu sou hipertensionário."
"Fui operado ao panquecas" (pâncreas).
"tenho duas úlceras, e é porque o sr dr não puxou por mim,senao tinha mais!"
"tive três úlceras, um macho, uma fêmea e uma de gastrina."
"sr dr a minha mulher tem umas almorródias que, com a sua licença, nem dá um peido."
...e claro, o génito-urinário...
"às vezes prega-se-me uma comichão nas barbatanas..."
"tenho de ser operado ao stick, já fui aos estículos."
"oh sr dr tenho muita ardialeja na via de serventia."
"tenho esta comichão na perseguida porque o meu marido tem uma infecção na ponta da natureza."
...e finalmente, o que o doente pensa do médico...
"Tem umas mãozinhas, como se diz...é o nambulano!" (number one).
domingo, 29 de março de 2009
sexta-feira, 13 de março de 2009
quarta-feira, 4 de março de 2009
eLemeNtaR, meU cARo WatSoN....
Ia escrever uma carta aberta ao excelentíssimo Sr. Professor Doutor Regente de Neurologia, mas achei melhor deixar os insultos para sexta-feira, quando sairem as notas do exame.
Por isso vou deixar aqui uma frase gira que me captou a atenção (o que, diga-se de passagem, hoje não é particularmente difícil. Querendo eu achar que é pelo meu encéfalo à TC-ce revelar uma tendência para diarreia mental na substância branca, que se traduz sintomaticamente em coprolália a copromimia, e também em insónia total induzida por livros, tudo isto tendo como factor desencadeante a passagem por elementos que enverguem um martelinho de plástico ridículo pendurado nos botões da bata):
"A man who moralises is usually a hypocrite"
Oscar Wild
Não tendo capacidade para produzir (mais) nada de interessante hoje, sobeja-me apontar que eu passo a vida a dizer o mesmo e ninguém me leva a sério! Queres ver que tinha de ter vivido no século xix, ter tendências homossexuais e afogar-me em ópio para ser reconhecida por dizer frases que são conclusões estupidamente óbvias?
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